quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Demócrito de Abdera – Escola atomista (460-370)

Demócrito nasceu provavelmente em 460 a.C. e morreu em 370 a.C., mas há muita incerteza com relação a estas datas. Foi o mais viajado dos filósofos pré-socráticos, tendo visitado a Babilônia, o Egito e, segundo alguns autores, a Índia e a Etiópia. Depois, esteve também em Atenas. Discípulo de Leucipo e chefe da escola, escreveu numerosas obras, embora não haja certeza de serem todas de sua autoria, mas todas se perderam.
Os atomistas são os últimos pré-socráticos. Chegam a ser contemporâneos de Sócrates, mas continuam na tradição que se preocupa com a physis (natureza) e, sobretudo, na linha da filosofia eleática. Os dois principais atomistas foram Leucipo e Demócrito, sendo que nada se sabe de especial com relação à Leucipo, apenas que foi o precursor da teoria atomista.
Tudo o que existe é constituído de átomos que são partículas indivisíveis e invisíveis, eternas e imutáveis; não têm qualidades, exceto a impenetrabilidade; diferem entre si apenas pela figura e pela dimensão.
Existe apenas o átomo e o vazio. Todos os átomos, sendo corpos minúsculos, não possuem qualidades sensíveis, e o vazio é o espaço que tais corpúsculos se movimentam para cima e para baixo eternamente ou se entrelaçando de diversas maneiras, ou se chocando e ricocheteando, de modo a irem se desagregando e agregando em tais compostos; e, desta forma, produzem todas as maiores agregações e os nossos corpos e as maiores afeições.
Nenhum átomo pode aquecer-se ou resfriar-se, ressecar-se ou umedecer-se, tornar-se branco ou preto ou receber outras qualidades por qualquer modificação que se queira.
A terra é constituída por átomos mais volumosos, os quais, no turbilhão do movimento, se reuniram no centro do universo, constituindo a massa homogênea que chamamos Terra.
A alma humana é formada por átomos leves e sutis, os quais são ígneos, isto é, semelhantes aos que constituem o fogo.
Também os deuses são feitos de átomos. A sua superioridade é devida a uma constituição atômica mais perfeita e a uma duração mais longa. Mas nem os deuses são imortais. Isto porque tudo –deuses, homens, coisas- está sob a fatalidade do movimento que associa ou dissocia os átomos.
O conhecimento é descrito por Demócrito como uma captação, por parte dos órgãos sensitivos, dos átomos irradiados pelos corpos. A diversidade da sensação depende das formas diferentes dos átomos. O doce, por exemplo, é causado “por átomos redondos e de tamanho razoável”, o azedo “por átomos agudos e angulosos”, etc.
Com esta doutrina aparece pela primeira vez na cena da história da filosofia uma teoria de capital importância, a qual ensina que qualidades como odor, sabor, cor, etc,. não são objetivas, mas subjetivas. Assim, por exemplo, a cera, em si mesma, não é nem doce nem amarga, nem branca nem amarela; essas qualidades são decorrentes do encontro dos átomos da cera, em suas características quantitativas, com o sentido do gosto e da vista do homem. Isto explica, segundo Demócrito, por que a mesma coisa seja doce para uns e amarga para outros, branca para estes e amarela para aqueles: depende dos órgãos dos sentidos de cada um.
Demócrito foi o primeiro a dar atenção à origem da linguagem. Eis sua explicação: “No começo os homens emitiam sons não articulados e destituídos de significado; mais tarde, aos poucos, começaram a articular palavras e estabeleceram entre eles expressões convencionais para designarem os objetos e assim criaram a linguagem”.
Quanto à moral, Demócrito não coloca a felicidade no prazer dos sentidos, mas na harmonia da razão e na paz da alma (tanquilitas animi). Se se ouvirem com entendimento estas minhas sentenças, muitas ações dignas de um homem excelente serão praticadas e muitas más ações serão evitadas (é o fragmento).

Alguns fragmentos de Demócrito:
-Escolher os bens da alma é escolher os bens divinos; contentar-se com os bens do corpo é contentar-se com os bens humanos.
-Prazeres intempestivos provocam desgosto.
-Desejar violentamente uma coisa, é tornar-se cego para as demais.
-Para todos os homens, o bem e o verdadeiro são o mesmo; o agradável é uma coisa para uns e outra para outros.
-Quem a ninguém ama, a meu ver, por ninguém é amado.
-Ser dominado por uma mulher é, para um homem, a mais extrema ofensa.
-Força e beleza são os bens da juventude; a prudência é a flor da velhice.
-O ancião já foi jovem, e o jovem não sabe se chegará a ser ancião. Um bem realizado é melhor que um bem futuro e duvidoso.
Prof. Esp. Eliseu Santos Lima

Nenhum comentário:

Postar um comentário