Quando o ser humano cultiva a dimensão interior e percebe a realidade transcendente, na alma, ele quer ser-mais, quer adentrar o mistério do universo suscitado por perguntas sobre a existência. Admite a realidade transcendente de uma instância superior.
A religião está assentada na autotranscendência, que é o movimento que o homem ultrapassa sistematicamente a si mesmo, tudo o que é, tudo o que adquiriu, tudo o que pensa, quer e realiza. Tem consciência do infinito, do cosmos e de sua finitude, por isso quer re-ligar ou re-ler esta realidade, partindo de uma Realidade Primeira, a qual chamamos Deus ou deuses (monoteísta, politeísta ou panteísta ou mais de um), sejam eles quem for: Brahman, Alá, o Deus trino cristão, Zeus, Adonai – IWHW, Tupã (Guarani), Tao (Taoísmo), Amaterasu (a mais importante deusa japonesa), Orixás (Candomblé).
Uma das funções da religião é re-ligare, estabelecer ou exprimir nossa relação com Deus. Outra é re-legere, para essa segunda acepção temos que saber que religião é um ato de fé e conseqüentemente um ato da inteligência que desdobramos em: intus-legere (ler por dentro) e inte-legere (ler dentro). Intus-legere exprime a necessidade de compreender o fato religioso nas suas nuances mais profundas; o comportamento e sentimento religiosos, as formas de expressão do ser religioso. Dá-se um crédito para avaliar o conteúdo de determinada religião para averiguar se pode fazer parte dessa realidade. E inte-legere que é a vivência da fé dentro da religião na busca da realização pessoal, e uma confissão de fé que responde às suas questões existenciais mais profundas, satisfatoriamente. Ao crer ou dar um crédito à determinada religião, a pessoa não está isenta de dúvida, pois tudo na vida não é uma certeza. O inte-legere e intus-legere traduzem a sistemática da religião. Primeiramente, a pessoa dá um crédito de confiança; depois; experimenta e reconhece, ou não, que há sentido esta religião para sua vida. Ao experimentar, compreende-se, ao compreender professa-se essa fé na religião escolhida. Por esse caminho, chega-se à realização pessoal, pois toda religião busca esta realização na Realidade Primeira.
Vem a baila o questionamento sobre a existência de Deus e a liberdade humana. Se a religião não promove a realização pessoal é porque a liberdade está comprometida. Partindo do estado de consciência (consciência de si num determinado tempo e espaço) num nível elevado, a pessoa adere somente àquilo que lhe faz sentido e traz benefícios para o crescimento pessoal, reelabora o conteúdo religioso (subjetividade) para não ser dominada por fundamentalismos. A religião em si é boa, mas nem sempre promove o ser-mais; ser-para-si, ser-para-o-outro, ser-para-Deus e ser-para-o-mundo.
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