A sabedoria é construída ao longo do tempo, alguns alcançam logo, outros no fim da vida e outros nem sabem o que é isso, muito menos desfrutam disso.
Eu diria que alguns espíritos nasceram desafortunados, outros foram feitos e outros se fizeram desafortunados.
Algumas pessoas nasceram num meio que não estimula a percepção do sentido da vida através da experiência cotidiana analisada introspectivamente. Vivem tão atarefados que, quando há tempo para o ócio, buscam preenchê-lo com alguma futilidade e logo aparece o vazio existencial que chega arrombando a razão e emerge o sentimento de inquietude, de insatisfação.
Buscam-se respostas em frases de livro de auto-ajuda, mas o conforto é momentâneo. Ainda há uma solução, a religião. A religião proporciona paz interior, desde que a pessoa exerça sua autonomia iluminada pela divindade, porém as pessoas alienam-se na religião e passam a fazer tudo o que a autoridade religiosa recomenda, e o exercício da autonomia esfumaça-se ao vento da bandeira de Deus.
Por que tanto sofrimento se a vida é tão simples?
Simples? Nada disso. Como posso deixar um segundo sequer vago do meu tempo ao ócio? O silencio é sufocante.
Por que introspecção se eu posso usar meu MP... para estar em harmonia? Pena que a música nem sempre é instrutiva!
Algumas pessoas nunca exerceram sua autonomia, pois parece cômodo obedecer às ordens e regras impostas, seja por um superior, seja pela sociedade.
Não é necessário romper regras, nem conformar-se a todas elas. Devo ser autônomo ao deliberar. Deliberação indica o que devo e o que não devo seguir, bem como agir na hora certa.
Algumas pessoas vivem num meio tão inóspito para deliberar que nem se ousa questionar os valores e conhecimentos transmitidos, muito menos questionar-se. A confiança numa determinada pessoa ou instituição pode ser tão forte que a proximidade ao fanatismo é sensível a outros olhares.
O assunto é tão vasto e a reflexão profunda. Concluo com um aforismo de Baltasar Gracián, de sua obra “A Arte da Prudência”:
“A arte de viver muito.
Viver bem. Duas coisas antecipam o fim da vida: ignorância e maldade. Alguns perdem a vida por não saber como salvá-la; outros, por não querer saber. Assim como a virtude é sua própria recompensa, o vício é seu próprio castigo. Aquele que vive uma vida de vícios encontra um fim duas vezes mais rápido. O que vive na virtude nunca morre. A integridade da mente se comunica com o corpo. Uma boa vida é plena tanto em intensidade quanto na extensão1.”
Não esqueça que a sabedoria não ocupa espaço, mas é construída ao longo do tempo e vivida por quem encontrou a paz interior na luz do Ser Essencial.
Professor Eliseu Santos Lima
1 Grifo nosso
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