quinta-feira, 8 de julho de 2010

SÓCRATES

Sócrates (c.470-399 a.C.) nada deixou escrito, e teve suas idéias divulgadas por dois de seus principais discípulos, Xenofonte e Platão. Evidentemente, devido ao brilho deles, é de se supor que nem sempre fossem realmente fiéis ao pensamento do mestre. Nos diálogos que Platão escreveu, Sócrates figura sempre como o principal interlocutor.
Sócrates se indispôs com os poderosos do seu tempo, sendo acusado de não crer nos deuses da cidade e corromper a mocidade. Por isso foi condenado e morto.
Costumava conversar com todos, fossem velhos ou moços, nobres ou escravos, preocupado com o método do conhecimento. Sócrates parte do pressuposto "só sei que nada sei", que consiste justamente na sabedoria de reconhecer a própria ignorância, ponto de partida para a procura do saber.
Por isso seu método começa pela parte considerada "destrutiva", chamada ironia (em grego, pergun-tar"), entre os gregos a ironia não era uma forma literária, mas uma atitude do espírito considerada detes-tável.
No livro IV da Ética a Nicômaco, Aristóteles, definindo a virtude da veridicidade, considera-a o justo meio entre a jactância (arrogância, vaidade) e a ironia. O irônico peca contra a veridicidade porque, em seus discursos, se recusa a revelar suas qualidades, oculta seu saber sob a capa de uma ignorância fingida e se protege atrás de um comportamento puramente negativo. Não é difícil de reconhecer que esta é a ironia usada por Sócrates, e é natural que os seus contemporâneos o tenham condenado por causa dela, mesmo tendo ele sabido transformar a ironia em um método de educação, em um processo pedagógico e filosófico.
Nas discussões afirma inicialmente nada saber, diante do oponente que se diz conhecedor de determinado assunto. Com suas perguntas, Sócrates deixa embaraçado e perplexo aquele que está seguro de si mesmo, faz-lhe ver novos problemas e desperta a sua curiosidade e estimula-o a refletir, desmonta as certezas até o outro reconhecer a ignorância. Parte então para a segunda etapa do método, a maiêutica (em grego, "parto"). Dá esse nome em homenagem a sua mãe, que era parteira, a-crescentando que, se ela fazia parto de corpos, ele "dava à luz" idéias novas.
Sócrates, por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da defi-nição do conceito. Esse processo aparece bem ilustrado nos diálogos relatados por Platão, e é bom lembrar que, no final, nem sempre Sócrates tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito e às vezes as discussões não chegam a conclusões definitivas.
As questões que Sócrates privilegia são as referentes à moral, daí perguntar em que consiste a coragem, a covardia, a piedade, a justiça e assim por diante. Diante de diversas manifestações de coragem, quer saber o que é a "coragem em si", o universal que a representa. Ora, enquanto a filosofia ainda é nascente, precisa inventar palavras novas, ou usar as antigas dando lhes sentido diferente. Por isso Sócrates utiliza o termo logos, que na linguagem comum significava "palavra", "conversa", e que no sentido filosófico passa a significar "a razão que se dá de algo", ou mais propriamente, conceito.
Por razões de método (e não por incapacidade de Sócrates), seus diálogos levantam uma questão, mas não dão a solução. Servem para por o interrogado no caminho da solução para que ele mesmo a encontre. Solução difícil porque, tratando-se de problemas morais, exige muitas vezes uma conversão.

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