quinta-feira, 8 de julho de 2010

Qual o sentido da filosofia?

Mário Ferreira dos Santos – Palestra no Centro Convivium, 1964

Não há uma única, só há a filosofia, porque ela como já definiu muito bem
Pitágoras, continua com a sua definição, ela nada mais é do que o amor a sabedoria.
Pitágoras, numa aula de geometria, em que fazia a demonstração de um teorema
indicou um caminho.
Ele disse que devia se fazer a filosofia “a more geométrico”, também com
demonstrações rigorosas e apodíticas. Se procedermos assim a filosofia não será
motivo de divergências humanas, mas de aproximação.
A matemática não tem divergências, porque ela entrou no campo especulativo e
entrou na demonstração rigorosa, o que existe de divergência é que pode haver é na
parte de aplicação, na parte prática.
É lógico que não pode atingir a perfeição incomutável. O triângulo perfeito será
sempre relativo, o que há necessidade é de dar a filosofia outro sentido, se a filosofia
for construída assim é uma só, então encontramos uma filosofia perene, positiva e
perene através dos séculos, através dos milênios.
Filosofia que vem vindo através dos gregos, através dos pitagóricos, socráticos,
platônicos, aristotélicos, através da escolástica, através dos grandes árabes até nós.
Agora estamos numa fase de confusão, porque a filosofia está sendo invadida por
estetas e o espírito do esteta, o espírito romântico é destrutivo, pois ele acha que a
filosofia é subjetiva, pessoal.
A nossa luta é voltar outra vez a estrada real, aquela estrada real que é nossa,
que é patrimônio da humanidade. Filosofia não é filodoxia, filosofia não é o campo dos
palpites, não é o campo das opiniões, na filosofia não há lugar para opinião. Quando se
diz “qual é a sua opinião” não se está mais fazendo filosofia, está se fazendo filodoxia.
Filosofia tem que se demonstrar, se não se pode demonstrar então fica em suspenso,
continua se investigando até que se chegue a demonstração rigorosa.
Porém não se vai encontrar uma explicação apodítica de fatos contingentes,
querer reduzir os fatos da ciência a um sentido especulativo e de raciocínios apodíticos
absolutos não se vai conseguir, são sempre prováveis e este é o campo da
probabilidade da ciência. É provável, por exemplo, que aquela pedra que está solta vá
cair, mas não há nenhuma necessidade absoluta que ela caia, é outra coisa.
Hoje em dia se faz muitas confusão, há muitas tendências, muitas escolas. As
questões que existem na escolástica são questões abertas, mas em regra geral todos
os escolásticos têm uma unidade, há um pensamento entre eles que é unitário, que forma uma unidade, dá uma corporeidade, dá uma tensão a escolástica, assim como
existe no pitagorismo apesar das divergências entre os pitagóricos.
Chamamos nossa filosofia de concreta, porque ela é uma filosofia positiva que
busca concrecionar os aspectos positivos de todo o filosofar, tudo o que expomos
demonstramos apoditicamente e o mais possível, evitando o termo médio, quer dizer
evitando o raciocínio da razão, porque o raciocínio propriamente racional que é o da
ciência é precisamente aquele que usa o termo médio, procuramos evitar o mais
possível, embora nem sempre seja possível evitar.
Mario Ferreira dos Santos

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