Às vezes conhecemos a verdade, porém de um modo grosseiro; a realidade não se apresenta aos nossos olhos tal como é, senão com alguma falta, acréscimo ou mudança. Se se desfila a certa distância uma coluna de homens, de tal maneira que vemos brilhar os fuzis, mas sem distinguir os trajes, sabemos que há gente armada, mas ignoramos se estão à paisana, de tropa ou de alguma outra corporação; o conhecimento é imperfeito, porque nos falta distinguir o uniforme para saber a quem pertence. Mas se pela distancia ou outro motivo nos equivocamos, e lhes atribuímos uma qualidade ao vestuário que não se atribui, o conhecimento será imperfeito, porque acrescentaremos o que realmente não existe. Por fim, se tomamos uma coisa pela outra, como, por exemplo, se cremos que são brancas algumas linhas que na realidade são amarelas, mudamos o que há, pois fizemos da coisa algo diferente.
Quando conhecemos perfeitamente a verdade, nosso entendimento se parece a um espelho no qual vemos retratados, com toda fidelidade, os objetos que são em si; quando caímos no erro, nos assemelhamos àqueles vidros que nos iludem e que apresentam o que não existe; e quando conhecemos meias verdades, poderia comparar-se a um espelho meio apagado, ou colocado em tal disposição que se nos mostra objetos reais, oferece mudanças, alterando tamanho e figuras.
Tradução de um trecho do livro: El Criterio de Jaime Balmes
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